quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

À Caça do 7° anjo.

Pessoas,

Pra puxar conversa nessa mesa de bar/boteco/pé sujo eu trago uma figura ímpar: O ANJO.
O correto seríamos dizer ANJOS, porque o termo é polissêmico. Se é verdade que eles não têm sexo [Há quem se recuse discutir o sexo deles, mas cultura de bar é isso], não se pode negar que ao falarmos de anjos estamos falando de diferentes seres etéreos. Então para brincarmos, eu trago parafraseando o ANJO do Drummond, mais cinco anjos da musica e poesia brasileiras:

POEMA DE SETE FACES (C. Drummond):

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

LET'S PLAY THAT (Torquato Neto/Jards Macalé)

Quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes

ATÉ O FIM (Chico Buarque)

Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
Inda garoto deixei de ir à escola
Caçaram meu boletim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bola
Nem posso ouvir clarim
Um bom futuro é o que jamais me esperou
Mas vou até o fim
Eu bem que tenho ensaiado um progresso
Virei cantor de festim
Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso
Em Quixeramobim
Não sei como o maracatu começou
Mas vou até o fim
Por conta de umas questões paralelas
Quebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir as minhas mazelas
E a minha voz chinfrim
Criei barriga, minha mula empacou
Mas vou até o fim
Não tem cigarro, acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da venda
O que será de mim?
Eu já nem lembro pr'onde mesmo que vou
Mas vou até o fim
Como já disse, era um anjo safado
O chato dum querubim
Que decretou que eu tava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim

ANJO DE FOGO (Alceu Valença)

Um anjo de fogo endemoniado
Que vai ao cinema, comete pecado
Que bebe cerveja e cospe no chão
Um anjo caolho que olhou os dois lados
Dormiu no presente, sonhou no passado
Olhou pro futuro e me disse que não

COM LICENÇA POÉTICA (Adélia Prado)

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.


POEMA DO ARCANJO TORTO (Gabriel Bicalho)

Quando nasci
ganhei nome de arcanjo
minha mãe me adorava
e (eu de berço) ordenou-me:
vá gabriel
ser feliz nesta vida!
dei-lhe tão pouco de ouvido:
poetinha atrevido
vagabrielei pelo mundo
vasto e imundo
como inútil raimundo
do gauche drummonddeandrade
êta vida b*sta:
do jeito que o diabo gosta!
mas se Deus permitir
alguma felicidade
ainda posso fingir
ser feliz de verdade!

Desafio: Pessoas, temos aqui seis poemas (letras de música) que parafraseando Drummond já acharam 6 anjos... 7 é número cabalístico. Quem se atreve a achar o sétimo? Vale uma noite no paraíso... rs!

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